I didn’t come this far to only come this far

A manhã antes da prova – Meia Maratona de Lisboa

O despertador toca as 07:45 e eu levanto-me. Preparo o pequeno-almoço habitual antes de uma corrida: um batido de banana com aveia e alguns pózinhos mágicos da Iswari e uns energéticos da Origens Bio, leite de amêndoa e go go go. Vestir a roupa do costume: uns calções largos e um top confortável que segure bem o peito, uma t-shirt larga por cima, os phones e a bolsa da cintura que a minha amiga Nádia me levou pela manhã. Na bolsa levo o meu telemóvel, o spray protetor da cara e lábios, uma fatia do meu bolo saudável para comer antes e um gel energético para dar energia durante a prova.

O percurso até à prova

As 08:30 vou para o Hotel D. Pedro onde me ia encontrar com o resto das pessoas para apanharmos o autocarro e irmos até ao local de partida: a Ponte Vasco da Gama.

Eu não conhecia quase ninguém lá mas a vantagem da corrida é que une as pessoas e por isso tive o prazer de estar com várias pessoas que me deram motivação e me animaram bastante fazendo com que a minha ansiedade matinal desaparecesse. Obrigada António, Isabel, João, Kiko, João Pedro… vocês foram incríveis!

Às 10:00 chegamos à ponte e já se prevê o calor que se vai sentir ao longo da prova, 25 graus às 10h não é uma boa temperatura para correr 21.1.km. O meu nervoso miudinho era óbvio a qualquer um que me visse…

A corrida

Às 10:30 começava a prova, pus os phones e um aleatório na minha lista do Spotify que tinha preparado com todo o tipo de músicas que gosto para que não me faltasse animação. Os 6km feitos na ponte Vasco da Gama não são fáceis, o final da ponte é a subir e por isso o aquecimento ficou feito. Como não haviam águas no local da prova, no final da ponte tomei logo o primeiro gel que tinha levado. Estava muito calor e aquele aquecimento de 6km deu-me logo alguma previsão de fraqueza…

Depois da ponte avizinha-se a curva que liga ao Parque das Nações e onde finalmente dão águas, bebo alguns golos e despejo o resto no corpo. Está um calooooor que não se aguenta! Oiço na minha aplicação que uso para correr que fiz os 6km no meu melhor tempo e continuo com ânimo. Aos 10km, já ao pé do Braço de Prata, oiço novamente que bati o meu record dos 10km (57min). Sabia que a qualquer momento, as dores da banda iliotibial iam aparecer. Bebo um shot de Powerade (dado pela organização) e mais uns golos de  água. Senti-me agradecida por estar a correr tudo dentro da normalidade e me sentir com energia suficiente para continuar.

Como lidar com a frustração

Ao Km11 começam as dores nos joelhos e não demoro muito até ter de que começar a andar. As dores da síndrome da banda iliotibial, mais conhecida por dor do corredor, é uma lesão que acontece por sobre-uso dos tecidos na parte externa do joelho, normalmente  provocada por múltiplos movimentos repetidos, particularmente no movimento flexão/extensão a mais dos 30 graus. Até ao Km 14 o percurso não foi fácil, demorei 20min para fazer 4km porque mal consegui correr. Estava muito calor, a emoção era muita e até me vieram lágrimas aos olhos. Não é fácil lidar com a derrota e pensar que tinha tido uma preparação de 6 semanas para chegar ali e não conseguir. Isso assustava-me muito!

Troquei a lista do Spotify e pus a minha lista de discursos motivacionais. A verdade é que é incrível o efeito que a música tem em algumas pessoas. Concentrei-me que não tinha dores, foquei-me na minha técnica e regressei. Pareceu-me uma eternidade. A vantagem do discurso motivacional é que realmente me dá motivação.

Ao km 14 comi um daqueles pedaços de banana que dão e mais um shot e acho que foi aí que se fez luz. Eu queria muito conseguir acabar a prova e não sei de onde veio a força mas eu comecei a correr, lentamente, com algumas dores mas que acabaram por se dissipar. Devagar, a um ritmo bem inferior ao que estava antes de ter as dores mas isso pouco importa. Não parei de correr até terminar a prova.

O fim

Foram 21.3km segundo a minha aplicação. Foram 21.3km num misto de emoções, de ansiedade, felicidade e muita tristeza no momento que acreditei que não conseguia terminar. Mas quando terminei… AI QUANDO TERMINEI foi uma realização pessoal tão grande, um coração tão cheio, uma felicidade sem fim.

Não há palavras para descrever aquele momento em que cheguei ao terreiro do paço, cortei a meta e finalmente abracei as pessoas que me esperavam. Senti que tinha cumprido a missão que há 6 semanas atrás me tinha proposto.